Créditos: OpenAI

No dia 4 de Maio a Microsoft anunciou a integração do GPT-4, a versão mais aprimorada do ChatGPT, ao Bing, seu sistema buscador concorrente do Google. Esta nova versão promete um aumento exponencial em relação à versão anterior. Além dos recursos conhecidos de respostas verbais, o GPT-4 agora faz o processamento de imagens, ou seja, une a linguagem verbal com a visual em um único resultado.
Esta tecnologia vem no contexto em que a Inteligência Artificial operacional veio à público, no fim de Novembro de 2022, com o lançamento do ChatGPT para o público em geral, e não somente isto, mas este fato vem em um momento em que os softwares geradores de imagens estão em alta evidência, tudo girando em torno da Inteligência Artificial como motor destas ferramentas.

Crédito: Kevin Roose - DALL-E

Essas tecnologias obviamente estavam sendo desenvolvidas há muito tempo, de acordo com declarações da própria empresa Open AI, a criadora do ChatGPT e GPT-4, eles estavam trabalhando no assistente inteligente desde 2015.
Pode-se observar que neste momento em que a Inteligência Artificial “prática” veio a público, estamos presenciando um evento de grande magnitude ocorrendo, assim como em uma “virada de chave”, estamos diante do ponto de convergência das tecnologias que têm a Inteligência Artificial como base, portanto, não é por acaso que isto ocorre em paralelo com a ascensão dos softwares geradores de imagens, citados em mais detalhes em meu artigo anterior, do fim de 2022, intitulado “O Vale Estranho das Máquinas”, e não é por acaso também que estamos presenciando notícias envolvendo a IA todas as semanas desde janeiro de 2023, literalmente.

Créditos: Créditos - PrivateIsland.tv

No tocante ao Chat-GPT e GPT-4, pode-se observar a conexão com alguns princípios de Design, como o Princípio das Camadas, o Princípio da Narração, além da intrínseca conexão com a Semiótica, e aqui citarei especificamente o aspecto dos Sistemas Simbólicos e Sistemas Semióticos.
O Princípio das Camadas diz respeito ao processo de organizar as informações em agrupamentos relacionados, para assim gerenciar a complexidade e reforçar as relações entre elas. Neste processo, o objetivo basicamente se torna administrar a complexidade do acúmulo de informações, para se alcançar um determinado objetivo, e que obviamente só pode ser alcançado com uma comunicação visual e verbal eficiente. Na prática, este princípio é muito útil para se construir um o organograma de funcionamento de um site, aplicativo, um infográfico, um trabalho editorial, um manual de instrução, um material de ensino, entre tantos outros exemplos.
A organização da complexidade de informações, em qualquer grau, abrange todo o tipo de situação, seja de trabalho, no meio do empreendedorismo, no meio educacional, governamental etc. E justamente neste ponto a Inteligência Artificial entra em ação, pois um dos princípios de seu funcionamento é claramente o de organizar informações.
O Princípio das Camadas utiliza-se de técnicas como hierarquia, sistemas de camadas paralelas, ou em rede por exemplo. As camadas podem ser organizadas de forma bidimensional ou tridimensional. Portanto, podemos entender que para uma IA ter eficiência nos resultados, isto passa pela organização da complexidade de informações, e boa comunicação com quem a estiver usando. Não há novidades por aqui, afinal os programas de planilha já podem produzir gráficos (linguagem visual) há um bom tempo, mas isto ocorre dentro de uma base de dados criada pelo usuário, a novidade agora é o fator “geração” de informações, textos e imagens, através do processo literal de “conversa” com a máquina.
O Princípio da Narração diz respeito da criação de imagens, emoções e compreensão de imagens por meio de uma interação entre narrador e público. Aqui chegamos a um dos pontos mais intrigantes do estágio em que a Inteligência Artificial chegou, pois por princípio, entende-se que o processo da Narração é um fenômeno exclusivamente humano. Voltando no tempo, os princípios deste processo podem ser encontrados na obra “Poética” de Aristóteles.
Sabe-se que uma boa narrativa deve seguir fundamentos como: cenário, personagens, enredo, por exemplo. Um processo claramente pautado na criatividade nata do ser humano, porém, é justamente neste ponto em que a IA está tocando, obviamente de forma rudimentar, mas o ChatGPT ou o GPT-4 já são capazes de produzir poesias, escrever textos comerciais, e além, já há casos de produção de roteiro para comerciais e filmes, como no recente caso do “bizarro” comercial de cerveja criado pela IA.
Assim, para exercício de pensamento, unindo apenas a capacidade de organizar a complexidade das informações, que passa pelas Camadas, com a capacidade de criar Narrativa, já podemos ter uma clara ideia do poder desta tecnologia, e para onde isto está se encaminhando.

Créditos - PrivateIsland.tv

No quesito da Semiótica, vamos nos aprofundando mais. De forma geral, a Semiótica é a Ciência dos Signos, que se debruça em estudar e compreender este que é um princípio básico de todas a línguas e tudo que abrange comunicação, como os Sinais e Símbolos.
Sendo a IA capaz de organizar e “narrar” informações,  certamente ela deverá processar Signos, Sinais e Símbolos. Considerando estes elementos como bases fundamentais da Comunicação, então a Semiótica seria como uma espécie de “alimento” para a Inteligência Artificial.
Basicamente, a partir da Semiótica, a IA poderá diferenciar os diversos padrões de signos dos diferentes idiomas existentes no mundo, o que já é uma realidade, afinal, neste momento, a versão mais atual GPT-4 provavelmente está disponível em diversos idiomas. A questão central a partir daqui, é quando entramos no campo dos Símbolos e Sistemas Semióticos, nesta área estuda-se a relação entre símbolos, seus componentes não verbais, semânticos com os signos verbais. O resultado destas combinações forma o Símbolo, ou seja, uma Unidade Semiótica, de acordo com a definição dada pelo linguista dinamarquês Louis Trolle Hjelmslev.
Vamos tomar como exemplo o Símbolo do Comunismo, uma foice e um martelo, separadamente podem significar qualquer outra coisa, mas quando unidos, estes “Componentes” formam um “Símbolo” que formam o Signo Verbal “Comunismo” e a sua definição. Assim como o componente “Balança de dois braços Iguais” forma o “Símbolo” verbalizado como “Justiça” e sua definição – significado.
Obviamente o caso aqui são apenas simples exemplos para explicar claramente este campo da Semiótica, a partir daqui, podemos aprofundar ainda mais, indo para o campo das interpretações. Mais uma vez, fazendo um exercício de pensamento, quando citei estes dois exemplos de símbolos acima, provavelmente você já os vinculou com a sua interpretação e opinião. Agora, vamos somar a capacidade da IA de Organizar Camadas de Informações, de criar Narrativa, com a constante alimentação por Semiótica, qual a probabilidade das máquinas passarem a aferir interpretação a respeito dos Sinais e Símbolos, como os citados acima? Não há dúvidas de que a capacidade já existe, a questão que fica é o quanto elas já estão “alimentadas” disto.
Este assunto certamente só está começando por aqui, pois sem dúvidas é um tema complexo, e que terá inúmeros desdobramentos, não somente no que confere Comunicação, mas em todos os aspectos da sociedade. O ano de 2023 já está demonstrando ser um “ponto de virada” no quesito do impacto que estas tecnologias terão em nossas vidas, principalmente no aspecto dos empregos, em todas as áreas. Estas mudanças estão começando em algumas áreas específicas no momento, mas ao longo dos próximos meses e anos certamente permearão mais e mais setores da sociedade, ou seja, se já estávamos em tempos de mudanças, isto será acelerado ao longo desta década.
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