Recentemente, o aplicativo Lensa ganhou notoriedade por produzir ilustrações a partir de fotos dos usuários. Apesar de ter sido lançado em 2016, a ferramenta ganhou mais fama neste mês de novembro, a partir de uma atualização que trouxe a ferramenta “Magic Avatars”. Como de costume, muitas pessoas de influência na internet, incluindo artistas pop, começaram a divulgar os resultados de suas fotos em ilustrações produzidas pela Inteligência Artificial.
O conceito do aplicativo Lensa, feito por processos de máquina, vão de encontro com a lógica de funcionamento de outras ferramentas, como o DALL-E, o Stable Duffusion, e o Midjourney. Todos estes programas têm em comum o fato de serem operados por uma Inteligência Artificial (IA), que produz trabalhos a partir do envio de informações. No caso do Lensa, o sistema opera a partir das fotos de rosto que você envia, no caso do DALL-E, Stable Diffusion e Midjourney, a IA produz imagem a partir de textos, ou seja, ela converte a linguagem verbal em visual. Quando um usuário insere um texto do tipo “um astronauta montado em um cavalo”, a máquina procurará por diversos padrões de significados em que essas palavras juntas podem trazer, e em seguida converte estes sentidos em formato de imagem, gerando resultados no mínimo curiosos.
Um ponto em comum entre estas ferramentas, é o fato de terem alcançado um alto e assustador padrão de qualidade em alguns casos. Se tratando de Inteligência Artificial, estes trabalhos levantaram a discussão a respeito de como as máquinas estão fazendo um trabalho que era feito por mãos humanas, além do fato da coleta de dados, como a coleta de nossas fotos pelo Lensa, fotos estas que ficam no banco de dados da máquina.
Devemos considerar que o alto grau de qualidade não é unanimidade, há muitos casos em que o resultado final não somente fica abaixo da qualidade esperada, mas acaba gerando estranheza, como ocorre com o Lensa, em que muitas das fotos ficam abaixo do esperado, ou soam esquisitas. Este efeito remete a um Princípio a ser considerado no Design, o chamado Vale Estranho, ou “Uncanny Valley”.
Ou seja, a exemplo do Lensa, muitas fotos podem causar estranheza, pois acabam ficando bem parecidas, mas não idênticas.
A figura de um robô humanoide, por exemplo, apesar das formas semelhantes, se destacar boas diferenças de nós, não tende a gerar repulsão, enquanto a figura de um zumbi tende a causar esta repulsão por ser muito parecida, mas não idêntica a um ser humano normal. Este raciocínio poderia explicar também o fato de algumas pessoas terem repulsão por bonecos de bebês realistas, pois estes estariam entre o “idêntico” e o “muito parecido”.
Basicamente a Semiótica trata do estudo dos signos, ou seja, um dos componentes da Linguística que constrói o entendimento de tudo o que envolve comunicação, seja em palavras, em imagens, em símbolos, ou em linguagem corporal, por exemplo.
Pode-se observar que o trabalho que estas máquinas estão fazendo é em essência Linguística e Semiótica. No caso do Lensa, de forma geral, o aplicativo está compilando as fotografias de nossos rostos com padrões visuais de ilustrações, e estes padrões passam pelo processo de Linguagem Visual. Nos casos do DALL-E, Stable Diffusion e Midjourney, a Inteligência Artificial se utiliza mais ainda da Linguística e Semiótica.
Há muita discussão atualmente a respeito da capacidade que a Inteligência Artificial atingiu, principalmente no campo dos trabalhos que envolvem muito de nossa capacidade criativa, como o Design. Na imagem de destaque deste artigo podemos ver a pintura chamada de “Théâtre D’opéra Spatial” produzida pela Inteligência Artificial do programa Midjourney, sob iniciativa de Jason Allen. Recentemente esta pintura concorreu e venceu um concurso artístico do estado do Colorado, nos Estados Unidos, o que causou controvérsia a respeito de uma produção feita por uma máquina poder concorrer com trabalhos artísticos feito por mãos humanas.
Não tenho conhecimento a respeito dos detalhes técnicos destes aplicativos, mas analisando de forma geral o funcionamento e os resultados, fica evidente o quanto estão alimentando estas Inteligências com Linguística e Semiótica. Entretanto, fica claro também o quão limitadas as máquinas estão, considerando que muitas fotos produzidas pelo Lensa por exemplo não agradam.
São estes resultados que nos remetem ao Princípio do Vale Estranho, somando-se ao fato também do espanto que temos de ver uma pintura cheia de detalhes, feita por Inteligência de Máquina.
Por mais avançada que esta tecnologia possa estar, há muitas imperfeições, e considerando a discussão se a máquina pode roubar o trabalho artístico do ser humano, em minha visão a resposta é não. A Inteligência Artificial vai sim ajudar a fazer boa parte de nossos trabalhos de forma geral, pode nos dar mais eficiência, agilidade. Mas a criatividade humana é única, e não pode ser alcançada de forma robótica.
Portanto, sim, há grandes mudanças ocorrendo, muitos empregos serão substituídos pelas máquinas, mas todos os trabalhos que envolverem nossa capacidade linguística e de criatividade se manterão, pois no fim, o toque humano faz toda a diferença.




*As imagens que não contêm texto, e não foram citadas no artigo são da reprodução de anúncio do DALL-E, do blog e artigo sobre o Stable Diffusion.
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